Neste artigo vou exemplificar como nós, professores de matemática, podemos propor atividades concretas e interdisciplinares que farão com que nossos alunos coloquem literalmente a "mão na massa" e aprendam, não só matemática, mas também as ciências em geral.
Aliás, o termo "mão na massa" ou "hands on", em educação, não é novo e caracteriza os trabalhos em equipe envolvendo criatividade, autonomia, potencial inventivo dos estudantes colocando-os no centro do processo de ensino-aprendizagem.
Faz algum tempo que venho lendo, experimentando, criando e aplicando atividades "mão na massa" nas minhas aulas de matemática. O resultado dessa experiência me trouxe muita satisfação principalmente por comprovar a eficácia de tais atividades e o grau de aprendizado dos alunos.
As atividades "mão na massa" incentivam a interdisciplinaridade e a aplicação prática da aprendizagem. Essa estratégia de trabalho conecta a garotada com a realidade e lhes dá condições para desenvolver competências e habilidades para resolver diferentes tipos de problema a partir da investigação e do trabalho em equipe.
A ideia de propor atividades "mão na massa" nas aulas de matemática surgiu a partir da leitura do livro "Hands on Engineering", escrito por Beth L. Andrews, que traz atividades variadas e envolventes que estimulam os alunos a criarem soluções para problemas de engenharia. Isso mesmo, en-ge-nha-ri-a!!!
Os alunos, mesmo com pouca idade, interagem, criam e projetam seus protótipos com o intuito de resolver problemas práticos e desafiadores. Os desafios propostos são interessantes e fazem parte da realidade dos estudantes. Então, a partir da leitura deste livro as ideias começaram a fervilhar em minha mente e, claro, pensei em "puxar a brasa" para a matemática, sem deixar de lado outras áreas que conversam com os problemas.
Para montar cada atividade do projeto "matemática mão na massa" fiz várias pesquisas em diferentes áreas e criei materiais bem didáticos e acessíveis para que qualquer professor de matemática (ou outras áreas, por que não?) possam aplicá-las.
Os materiais trazem o passo-a-passo da atividade e, também, todas as informações que o professor deve ter para apresentar os desafios. Ilustrações e tabelas de coleta de dados também fazem parte de cada atividade sugerida.
Vou descrever, agora, uma atividade "mão na massa" que propus à minha turma: a torre de espaguete. Para realizá-la, a turma organizou-se em equipes de quatro estudantes cada.
O objetivo da atividade é construir a maior torre de espaguete possível utilizando 20 varas de espaguetes (massa), fita durex, tesoura e um metro de barbante. A torre tem que ser construída na mesa ou no chão, deve sustentar-se unicamente com os materiais disponíveis e não pode ser suspensa no teto ou lustre, por exemplo.
Num primeiro momento, os grupos são informados sobre o desafio e recebem apenas lápis e papel. Eles têm 10 minutos para pensar em como vão construir a sua torre.
Cada grupo deve organizar por escrito suas ideias escrevendo no papel como pretende realizar as atividades e utilizando esboços se quiser.
Depois, cada grupo recebe o material e começa a colocar em prática o plano feito. Neste momento, o trabalho em equipe é fundamental porque o tempo para realizar a tarefa é de 40 minutos.
O primeiro obstáculo a ser enfrentado é relacionado à base de sustentação da torre. Algumas equipes pensam em construir uma base em forma de prisma, outras em forma de pirâmide e outras, ainda, pensam em simplesmente prender as varas de espaguete na mesa sem qualquer critério.
A partir da tentativa e erro, os estudantes se deparam com este grande problema, que é a base de sustentação da torre, e aqueles que conseguem uma solução podem seguir em frente. Estes, normalmente, erguem uma torre alta.
Acabado o tempo, medido por meio de um cronômetro, é estabelecido um minuto para que as torres se estabilizem e o professor, com o auxílio de uma trena, mede a altura das torres.
Ganha o desafio a equipe que construir a torre mais alta. Após o desafio, os alunos sentam em um círculo e conversam a respeito das seguintes questões:
- O que foi mais difícil neste desafio para o grupo? Como essa dificuldade foi superada?
- O que limitou a altura da torre de cada grupo?
- Houve algum outro grupo com uma torre parecida com a sua?
- O que você gostou e não gostou de seu design?
- O tempo estabelecido para a atividade foi suficiente?
- Quais os polígonos utilizados nas diferentes construções da turma?
Em seguida, são mostradas as imagens de algumas torres famosas e os estudantes conversam a respeito das mesmas: No Japão encontra-se a Tokio Skytree, torre mais alta do mundo com 634 m. Em Paris localiza-se a Torre Eiffel que é um ícone da França e possui 300 m de altura. A torre de Pisa é um campanário da catedral da cidade italiana de Pisa; é muito famosa por ser inclinada devido ao terreno pouco firme (argila e areia) em que foi construída no ano de 1773.
- Quais as semelhanças e diferenças entre as três estruturas?
- Olhando para estas e outras estruturas em nosso entorno, quais as formas mais utilizadas?
Se olharmos para construções diversas vamos encontrar figuras geométricas conhecidas, dentre elas o triângulo. Triângulos são polígonos rígidos, ou seja, são estáveis e não deformam pois, uma vez definidos seus lados, não é possível mudar seus ângulos. Por este motivo, é um elemento muito utilizado em construções.
...
Bem, esse assunto vai continuar por muitas aulas e o professor pode explorar bastante a geometria: figuras planas, figuras espaciais, ângulos, área das figuras planas, volume, etc.
Num outro momento, depois desse estudo, é interessante propor novamente o desafio da torre de espaguete. Com certeza, nessa nova oportunidade, a turma sair-se-á bem melhor!
Por fim, atividades "mão na massa" são sinônimo de aulas desafiadoras e produtivas, alunos engajados e entusiasmados, aprendizagem significativa! Experimente aplicar esta atividade e, depois, registre aqui como foi sua experiência.
Deisi Magnus Corrêa
11/05/2020 15:57